Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2009
Percepção de solidão

 

Uma mulher entra no cinema, sozinha. Acomoda-se na última fila. Desliga o telemóvel e espera o início do filme. Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e acomoda-se na quinta fila, sozinha também. O filme começa.

 

Charada: qual das duas está mais sozinha?

 

Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afectos. Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica à da outra mulher. Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um “álibi”.

 

Muitas mulheres já viveram isso - e homens também. Uma pessoa viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento - há alguém à sua espera em casa. Esta retaguarda alivia a sensação de solidão. Um pessoa está sozinha, mas não é sozinha!

 

Então de repente perde-se o amor e a sensação de solidão muda completamente. Uma pessoa pode continuar a fazer tudo o que fazia antes - sozinha - mas agora a solidão pesará como nunca pesou. Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.

 

Isso não é nenhuma raridade, e acontece vezes demais. A nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social. Quando se tem alguém,  encara-se a vida sem preconceitos, expõe-se sem se preocupar com o que pensam os outros, lida-se com a solidão com maturidade e bom humor. No entanto, se uma pessoa carrega o estigma de solitária, a sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa. Ela será uma cruz de chumbo. É como se todos pudessem ver as ausências que se carregam, como se todos apontassem na sua direcção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha?

 

Porque ninguém está, de facto, apontando para nenhuma das duas. Quem aponta somos nós mesmos, para o nosso próprio umbigo. Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos. Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, a nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos. Relaxe. A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.

 

Martha Medeiros

 

 



publicado por Sheila às 01:32
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Sábado, 19 de Setembro de 2009
O Principe das Estrelas

 

Num tempo remoto, num reino distante, nasceu um homem que, desde pequeno, sonhava possuir algo de muito valor na vida.

Na sua infância deitava-se à sombra das árvores, imaginando... O anil dos olhos mirando o azul do céu, passava horas a fio a idealizar poder e riqueza. Mais que isso, ambicionava conquistar aquilo que de mais grandioso sabia: a natureza em todo seu esplendor...

A sua vida era planear o futuro. Um futuro brilhante.

Perdido em devaneios, carecia de tempo para notar as pessoas à sua volta. Assim foi que passou-lhe despercebida uma menina que, tinha por hábito espreita-lo, e silenciosamente, o observava com admiração...

Facto era ser belo este nosso jovem, e inteligente, e forte, e ambicioso. Primaveras e Invernos passaram velozes e ele cresceu. Muito e muito lutou pela sua prosperidade e poder... E, de todos, é sabido que se transformou de facto, não só no mais rico, como também no mais poderoso e invejado príncipe de todos os tempos, de todos os reinos. As suas façanhas alcançaram os sete cantos da Terra.

Tomou para si coisas nunca dantes conquistadas. Numa caixinha de ouro aprisionou o mais suave canto dos pássaros. Com cuidado guardou no baú o fino orvalho da madrugada. Num recipiente de madeira acalentou um subtil raio de Sol. Arquivou as rebuscadas palavras e os sinceros sentimentos dos poetas. Numa das luxuosas salas do seu castelo armazenou as mais belas melodias de líricos menestréis. E, o mais assombroso, conseguiu aprisionar o lume das estrelas numa caixa de cristal.

É bem verdade que o soberano passou anos felizes no seu castelo, alimentando-se de sua glória e fulgor...

Assim foi até que um dia instalou-se um enorme vazio no peito. Tinha poder e riqueza, honrarias e fama. Tudo com o que sonhara... ou quase tudo... Mas faltava-lhe algo inefável... Sim, uma presença companheira, alguém com quem pudesse compartilhar o sucesso.

Certa vez, o principe passeava-se pelos seus imensos pomares... deitou-se melancólico à sombra de uma das árvores, para o límpido do céu apreciar. Recordou a época em que era apenas um menino e almejava obter tudo aquilo que agora lhe era real... Subitamente pressentiu alguém espreitando-o, admirando-o, talvez... Olhou para os lados, vasculhou, mas nada viu. Era somente a vaga lembrança de uma menina travessa que se fazia presente. Teve o ímpeto de gritar o seu nome - qual mesmo seria ele? - e com ela conversar. Dizer das suas lutas e temores, mágoas e realizações...

Entretanto de nada adiantaria gritar. A sua ténue memória conseguia trazer de volta apenas a expressão dos olhos cor de mel daquela criatura longínqua. Foi aí que percebeu, com tristeza, que nem mesmo o tremeluzir das estrelas na sua caixa de cristal era tão enigmático, atraente e belo. Com amargura descobriu que seria o brilho daquele olhar o seu maior e mais valioso tesouro... O único que, em tempo algum, preocupou-se em conquistar. Aquele que jamais haveria de ter.

Ainda hoje, contam a história do príncipe das estrelas, como era conhecido este nosso personagem. A sabedoria popular acrescenta que, ao fazermos planos para o futuro, devemos cuidar para que neles não falte o lume dos olhos de alguém ao nosso lado. A trágica consequência deste esquecimento seria, sem dúvida, o maior de todos os sofrimentos: a solidão.

 

A Solidão é um daqueles lugares para visitar uma vez ou outra, mas muito mau de adoptar como morada. “Valorizar o que queremos perder, é Indecoroso. Valorizar o que perder não queremos, é Dignidade. Desvalorizar o que valor não tem, é Sensatez. Há que acatar tudo com decoro e sensatez porque a Vida é cheia de Horizontes e até o Sol os cruza, um de cada vez.”

 



publicado por Sheila às 02:37
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Sábado, 4 de Julho de 2009
Lidar com a rejeição

 

Tenho alguns amigos que atravessam duras crises de solidão afectiva.

Por mais que lhes diga que a solidão é um estado de espírito, que não se devem sentir assim porque há imensa gente que os rodeia e os ama e que gosta deles, é dificil conseguir transferir-lhes ânimo e alento.

Alguns estão apaixonados e não são retribuídos, outros vivem a frustração de um casamento acabado e outros simplesmente querem determinada pessoa nas suas vidas e nem sempre têm a melhor atitude para a conseguirem.

 

É estranha essa sensação de achar ou saber que quem amamos, não nos ama de volta e a consequente sensação de vazio, de despovoamento do planeta. Falta aquela pessoa e é como se resumisse o mundo inteiro. Que poder tem então essa pessoa sobre nós sem o saber!

Ninguém deveria apoderar-se de nós assim. Que se passa então? Talvez um reviver de abandonos passados, de rejeições anteriores, mágoas que nunca sararam. O que devia ser apenas uma chuvada com trovoada, seguida de bonança, transforma-se numa imensa tempestade que tudo assola, devastadora do próprio ser…

 

Não deveria ser assim!

 

Não pode ser assim!

 

É preciso  aprender a conviver com a rejeição do passado e depois, sim, lidar com a rejeição do presente e dar-lhe o valor que ela tem, não multiplicá-la pelo passado.

 

É preciso levantar a cabeça, aceitar a derrota, e seguir em frente.

 

É preciso afastar os fantasmas do passado, os medos de um repetir de sentimentos que só vão estagnar a vida, essa que tem que seguir o seu curso!

 

É preciso dar-se a si próprio uma segunda chance e deixar-se ser feliz!

 

Se nós não gostarmos de nós... e nos mimarmos... quem o conseguirá?

 



publicado por Sheila às 20:19
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