A construção de uma ponte advém da necessidade de unir as margens dos rios e de interligar a vida existente de cada lado, de modo a que o rio que separa as margens passe a fazer parte da vivência das duas margens em conjunto.
Na nossa vida construimos pontes na união entre nós e outras pessoas, de forma a que aquilo que nos separa passe a ser parte integrante da vida em conjunto, sem que seja um obstáculo e passe a existir uma travessia por onde as duas vidas se possam unir de alguma forma.
Ao construírmos as pontes que nos ligam às pessoas que nos rodeiam é possível estabelecermos algum tipo de relação e aprendermos imenso com outros. Nunca deixamos de ser nós próprios mas desta forma permitimo-nos incorporar experiências e saberes até aí ignorados.
Qualquer ponte necessita de cuidados e de manutenção. Há que estar atento à sua conservação e ao seu estado, de modo a que o seu uso continue a ser seguro para unir as margens. Para se evitar a queda de uma ponte há que investir nas tarefas de recuperar, manter, solidificar e consolidar todos os aspectos que dela fazem parte. Quantas vezes o tempo e o desgaste leva a que se construam novas passagens, novas formas de travessia entre margens que ficam mais afastadas pela insegurança e desconfiança de uma velha ponte. Na certeza que uma nova ponte nunca será uma cópia da anterior, uma nova travessia surge adaptada à vida actual de cada margem. Em consonância com as condições de cada lado do rio evitam-se e esquecem-se erros anteriormente cometidos na ponte que é abandonada. Em qualquer situação a velha ponte permanecerá na memória e às vezes até se adopta um uso diferente só para que não se perca completamente.
E na vida também é assim! Temos que cuidar e tratar das pontes que nos unem aos outros, temos que estar atentos ao seu estado e à sua condição. Se a ruína ameaçar estas pontes temos que saber reagir e recuperar a travessia, recuperando ou construindo uma nova ponte. Por vezes temos que criar novas pontes quando refundamos as relações, partindo daquilo que somos hoje e não apenas copiando o que fomos ou que gostaríamos que fossemos.
Há paixões que se transformam em amores; amores que se renovam; amores que se tornam amizades; amizades que se reforçam; amizades que se transformam em paixões; paixões que se tornam belas recordações; empatias que se revelam amizades; amizades que se tornam companheirismo; paixões que crescem; paixões que se desfazem e cristalizam em amizades ou cumplicidades que se transformam em paixões...
Há, também, situações na vida em que já não existe vida para fluir entre as margens e a ponte deixa de fazer sentido continuar a existir. Mas nem sempre, a ponte deixa de existir, apenas se transforma na recordação de que existiu ali um dia.
Quantas amizades vamos esgotando ao longo da vida?
Quantas paixões se extinguem e deixam de resultar?
E quantos amores ficam gelados da cumplicidade que existia inicialmente e se desmoronam como fumaça?
Qualquer ponte é fundamental para o fluir da vida. Acontece tanto nas pontes que unem as margens dos rios como naquelas que ligam as pessoas nas suas relações.
Na vida temos mesmo que saber construir e manter as pontes que nos ligam aos outros, temos que tentar perceber em cada momento o que essas pontes significam e temos de encontrar as adaptações, alterações ou melhorias que devemos fazer para que continuem a ser uma forma de nos enriquecermos nas relações que estabelecemos com aqueles que nos rodeiam.
Nas pontes que entretanto vão desaparecendo ou transformando, temos que saber preservar a sua memória com base naquilo que nos tornamos, fruto do que aprendemos com elas.
Bom início de semana!
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