Será possível perdoar e esquecer ou simplesmente perdoamos mas não nos esquecemos?
E quantas vezes queremos esquecer mas isso torna-se tão dificil e por isso não conseguimos sequer perdoar?
Perdoar é um acto assumido e consciente. Esquecer não é um acto que empreendemos, mas uma aprendizagem que gradualmente vamos deixando o coração alcançar. Esquecer depende de nós, não é algo afirmado, tem de ser sentido e acreditado e leva o seu tempo. Chegamos à conclusão que perdoamos quando conseguimos esquecer o que nos magoou, quando sentimos apagadas as marcas deixadas. Perdoar pode verbalizar o esquecer. Perdoar alguém é sossegar essa pessoa como que a dizer-lhe que já esquecemos, independentemente de o termos conseguido ou não, e independentemente de querermos esquecer ou não. Quantas vezes até perdoamos com o sentido convicto que isso será a via mais fácil para esquecermos e perdoamos convictos que acreditamos que de facto já esquecemos o que aconteceu. Mas nem sempre é assim e quantas vezes queremos perdoar mas a impotência de não conseguirmos esquecer o que nos magoa e desilude é mais forte que o nosso desejo!
No fundo todos temos a capacidade de perdoar, mas com a mesma intensidade temos a incapacidade de esquecer. Mas perdoar pode também ser o primeiro passo para esquecer, precisamente porque significa que tomamos consciência que queremos de facto esquecer, seguir em frente e tentar recuperar tempo perdido com mágoa, tristeza ou desilusão.
Há ainda mais dois tipos de situações: É bom perdoar sem esquecer! Por mais que queiramos perdoar para evitar conflitos sem sentido é necessário não querermos esquecer tudo o que aconteceu para que o aviso fique marcado em nós e não voltemos a passar pela mesma situação no futuro. Neste caso não se esquece mas desvaloriza-se o que nos magoou.
E há também a situação de querer esquecer sem perdoar. Por vezes as pessoas a quem poderíamos perdoar não nos merecem essa atenção, e queremos simplesmente esquecer o que aconteceu porque também as marcas que poderiam ficar deixam assim de ter significado para nós. Neste caso passa a imperar o afastamento e toda uma rotina se altera nesse mesmo sentido.
Em suma, acho que esquecer é geralmente mais difícil do que perdoar, porque leva mais tempo e depende sobretudo dos nossos sentimentos e da nossa capacidade de ultrapassar e conseguir sarar as feridas que determinado acontecimento provocou em nós. Não tenho dúvidas que o primeiro passo será querermos perdoar, querermos retomar algo que nos é devolvido com esse perdão. É preferível empreender o nosso esforço em esquecer o que nos magoou do que deixar prevalecer em nós a memória de determinado acontecimento que nos feriu e desiludiu. Um passo importante (e que poderá dar um outro post de divagação) é o acto de conseguir-se perdoar a si próprio também. E todo o processo de “perdão” iniciar-se-á a partir desta capacidade pessoal.
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