Achamos que a vida é uma sonata
que começa com o nascimento
e deve terminar com a vellhice.
Mas isso está errado.
Vivemos no tempo, é bem verdade.
Mas, é a eternidade que dá sentido à vida.
Eternidade não é o tempo sem fim.
Tempo sem fim é insurportável.
Eternidade é o tempo completo,
esse tempo do qual a gente diz:
"Valeu a pena".
Compreendi, então,
que a vida é uma sonata que,
para realizar a sua beleza,
tem que ser tocada até o fim.
Dei-me conta, ao contrário,
de que a vida é um álbum de minissonatas.
Cada momento de beleza vivido e amado,
por efêmero que seja,
é uma experiência completa
que está destinada à eternidade.
Um único momento de beleza e amor
justifica a VIDA inteira.
Rubem Alves
em Concerto para Corpo e Alma
Excelente semana... com menos chuva please!
Ps: Parabéns ao meu Sporting LOL
Como as pessoas, cada tecido tem as suas próprias vantagens e limitações.
Alguns são finos e lindos, mas frágeis que se rasgam ao mínimo picote.
Outros têm a trama tão cerrada que nem dá para ver as fibras.
Há ainda os que são grossos, encorpados, chegando até a arranhar.
Impossível mudar o caráter de um tecido.
Ele pode ser cortado, rasgado, cozido, para se transformar em vestidos,
calças, ou toalhas de mesa, mas seja qual for o feitio que assuma,
o pano continuará sempre o mesmo.
A sua verdadeira natureza não se altera, qualquer boa costureira sabe disso.
Frances de Pontes Peebles
A Costureira e o Cangaceiro
"E tal qual uma boa costureira, a vida encarrega-se de reconhecer e revelar
a natureza do tecido que nos reveste, seja qual for o feitio que assumamos."
“É uma palavra bonita, mágoa. Sabe a lágrimas silenciosas, a noites de insónia,
a manhãs de Domingo solitárias e sem sentido.
Está para lá da tristeza, da saudade, do desejo de lutar pelo que já se perdeu,
da raiva de não ter o que mais se queria, da pena de ter deixado fugir um grande amor,
por ser demasiado grande. Primeiro grita-se, barafusta-se, soluça-se em catadupas.
Depois, é o pós-guerra, a rendição, a entrega das armas e as sentenças de um tribunal
marcial interior, em que os juízes são a vida, e o réu, o que fizermos dela.
Limpam-se os destroços. Enterram-se os mortos, tratam-se dos feridos,
que são as nossas feridas, feitas de saudades, de desencontros, palavras infelizes
e frases insensatas, medos, frustrações e tudo o que não dissemos.
A mágoa chega então, quando o cansaço já não nos deixa sentir mais nada.
É silenciosa e matreira, instala-se sem darmos por ela, aloja-se no coração.
Mas o mundo nunca pára. Nada pára. A vida foge, os dias atropelam-se,
é preciso continuar a vivê-los, mesmo com dor.
Pelo menos a mágoa magoa, mas faz-nos sentir vivos.”
As Crónicas da Margarida,
Margarida Rebelo Pinto
Felizmente não tenho muitas mágoas, mas tenho momentos que olho para trás no tempo e sinto-me triste por saber que não voltarei a vivê-los. É precisamente por isso que cada novo dia é motivo suficiente para vivermos intensamente cada momento, para que não fiquem mágoas do que não se volta a repetir. Como diz a Margarida Rebelo Pinto o mundo não pára, nada pára e é preciso continuarmos bem impulsionados para continuar a viver.
Que seja intensamente. Que seja com alegria. Que seja com óptimismo.
Que um sopro seja o suficiente para afastar as mágoas que por vezes nos assombram!
Continuação de boa semana!
A construção de uma ponte advém da necessidade de unir as margens dos rios e de interligar a vida existente de cada lado, de modo a que o rio que separa as margens passe a fazer parte da vivência das duas margens em conjunto.
Na nossa vida construimos pontes na união entre nós e outras pessoas, de forma a que aquilo que nos separa passe a ser parte integrante da vida em conjunto, sem que seja um obstáculo e passe a existir uma travessia por onde as duas vidas se possam unir de alguma forma.
Ao construírmos as pontes que nos ligam às pessoas que nos rodeiam é possível estabelecermos algum tipo de relação e aprendermos imenso com outros. Nunca deixamos de ser nós próprios mas desta forma permitimo-nos incorporar experiências e saberes até aí ignorados.
Qualquer ponte necessita de cuidados e de manutenção. Há que estar atento à sua conservação e ao seu estado, de modo a que o seu uso continue a ser seguro para unir as margens. Para se evitar a queda de uma ponte há que investir nas tarefas de recuperar, manter, solidificar e consolidar todos os aspectos que dela fazem parte. Quantas vezes o tempo e o desgaste leva a que se construam novas passagens, novas formas de travessia entre margens que ficam mais afastadas pela insegurança e desconfiança de uma velha ponte. Na certeza que uma nova ponte nunca será uma cópia da anterior, uma nova travessia surge adaptada à vida actual de cada margem. Em consonância com as condições de cada lado do rio evitam-se e esquecem-se erros anteriormente cometidos na ponte que é abandonada. Em qualquer situação a velha ponte permanecerá na memória e às vezes até se adopta um uso diferente só para que não se perca completamente.
E na vida também é assim! Temos que cuidar e tratar das pontes que nos unem aos outros, temos que estar atentos ao seu estado e à sua condição. Se a ruína ameaçar estas pontes temos que saber reagir e recuperar a travessia, recuperando ou construindo uma nova ponte. Por vezes temos que criar novas pontes quando refundamos as relações, partindo daquilo que somos hoje e não apenas copiando o que fomos ou que gostaríamos que fossemos.
Há paixões que se transformam em amores; amores que se renovam; amores que se tornam amizades; amizades que se reforçam; amizades que se transformam em paixões; paixões que se tornam belas recordações; empatias que se revelam amizades; amizades que se tornam companheirismo; paixões que crescem; paixões que se desfazem e cristalizam em amizades ou cumplicidades que se transformam em paixões...
Há, também, situações na vida em que já não existe vida para fluir entre as margens e a ponte deixa de fazer sentido continuar a existir. Mas nem sempre, a ponte deixa de existir, apenas se transforma na recordação de que existiu ali um dia.
Quantas amizades vamos esgotando ao longo da vida?
Quantas paixões se extinguem e deixam de resultar?
E quantos amores ficam gelados da cumplicidade que existia inicialmente e se desmoronam como fumaça?
Qualquer ponte é fundamental para o fluir da vida. Acontece tanto nas pontes que unem as margens dos rios como naquelas que ligam as pessoas nas suas relações.
Na vida temos mesmo que saber construir e manter as pontes que nos ligam aos outros, temos que tentar perceber em cada momento o que essas pontes significam e temos de encontrar as adaptações, alterações ou melhorias que devemos fazer para que continuem a ser uma forma de nos enriquecermos nas relações que estabelecemos com aqueles que nos rodeiam.
Nas pontes que entretanto vão desaparecendo ou transformando, temos que saber preservar a sua memória com base naquilo que nos tornamos, fruto do que aprendemos com elas.
Bom início de semana!
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