Começo por dizer que não sei se teria a coragem desta mulher, não só na sua exposição nos media, desde há alguns meses até à hora da sua partida, como na forma como encarou o seu destino. Só o consigo compreender porque deixou assegurado o futuro dos filhos e porque se calhar já não tinha mesmo nada a perder.
A história é conhecida de todos, dado o fenómeno e a popularidade que assumiu na comunicação social em todo o mundo.
Jade nasceu e cresceu numa familia disfuncional, ligada ao consumo de droga, e que segundo os media, foi o que a fez ser escolhida para o programa de reality show "Big Brother" Inglês, realizado em 2002. Foi nesta altura, provavelmente, uma das mulheres mais odiadas em Inglaterra. A sua actuação no programa referido foi pautada de bebedeiras, má educação e sexo ao vivo com colegas da casa. Viria numa seguinte fase a integrar o Big Brother de Celebridades, levando consigo a mãe, conhecida pelo vicio da droga. Mãe e filha estavam desenquadradas e eram a imagem do britânico comum, num programa onde participavam estrelas a sério. Jade foi apanhada nas malhas da sua ignorância. Com dificuldades em pronunciar o nome da estrela de filmes indianos, Shilpa Shetty, referia-se à colega de programa como "a indiana". O escândalo rebentou e até o Primeiro-Ministro foi obrigado a comentar o comportamento da cidadã do seu País. Acabou por ser este percalço a abrir-lhe as portas a outro reality show, desta vez na India: "Big Boss". E foi neste programa que veio a saber que sofria de cancro, aquela terrível doença que veio no entanto fazer com que o público se aproximasse dela de uma forma diferente, gerador de uma empatia por aquela pessoa que passa por um momento difícil.
O cancro foi motor de simpatia do público... afinal é uma doença da qual não se tem culpa, uma fatalidade na vida de qualquer um. Se o diagnóstico fosse Sida, talvez nunca tivesse tido a capacidade de vender a sua história até ao fim, afinal a Sida é uma doença que dependendo das circunstâncias acaba por ser vista como uma doença que uma pessoa criou para ela própria. A história, a decadência diária vendeu... a avidez do público por ver a desgraça alheia compôs o fenómeno, que rendeu uma fortuna e servirá para garantir o futuro dos filhos. Jade terá uma estátua erguida em sua memória, na cidade onde cresceu, pelo seu empenho em promover o rastreio do cancro do colo do útero.
Morreu no passado dia 22 de Março, dia comemorativo do Dia da Mãe em Inglaterra. Será sepultada amanhã, dia 4 de Abril, sob um ritual há muito idealizado e programado por ela.
A SIC vai transmitir, em exclusivo nacional, o documentário sobre os últimos momentos da vida de Jade. Sinceramente dúvido que venha a ver esse programa.
Não sei qual é a vossa opinião sobre toda esta história. Revolta-me este aproveitamento do sofrimento alheio de um ser humano. Mas ao pensar que era seu desejo só me resta aceitar e compreender que cada um de nós faz a escolha que acha melhor para as suas vidas. Resta-me relembrá-la como uma lutadora, alguém que até ao último momento não descurou os seus cuidados com os filhos e que até ao fim da sua vida lutou sempre pelos seus interesses com carinho e com a certeza que a sua partida lhes deixava o futuro garantido.
Desejo que descanse em paz.
Desejo que os seus filhos a recordem com muito carinho e tenham a sua coragem.
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