Temos tendência a achar que um afastamento é apenas a distância fisica que separa as pessoas e a senti-lo quando a saudade bate mais forte. Pode até ser, mas existem outros tipos de afastamento. Nem sempre um afastamento é do “tipo” físico, e quantas vezes é o afastamento emocional que nos magoa bem mais. Também o afastamento fisico e emocional pode acontecer em simultâneo e é das sensações mais frustrantes que podemos vivênciar.
Num afastamento fisico podemos manter uma ligação que permita não sentirmos de forma tão dolorosa a separação fisica. Afinal conseguimos manter contacto através de um e-mail, de uma sms, de um telefonema e até de uma música ou de um gosto partilhado, e aqui curiosamente mantemos uma ligação emocional. Também, e quantas vezes, podemos estar fisicamente próximos e no entanto estarmos afastados porque emocionalmente existe algo que nos impede de comunicar com quem está perto de nós. Este afastamento emocional é, sem dúvida alguma, mais angustiante, porque os obstáculos existentes são menos palpáveis e quantificáveis. Para os obstáculos físicos podemos idealizar uma estratégia para os ultrapassar, mas quando eles são emocionais tudo se torna mais complicado, mais subjectivo e menos identificável.
Um afastamento nem sempre é uma separação imposta, pode também ser procurado por nós em algumas alturas. Quantas vezes sentimos necessidade de ficarmos sós para podermos reflectir! Quantas vezes nos fechamos na nossa concha para ganharmos tranquilidade! Quantas vezes sentimos necessidade de nos afastarmos um pouco para relaxar e descansar! Como é salutar sentirmo-nos emocionalmente afastados de tudo o que está à nossa volta, naqueles momentos em que precisamos de respirar, de nos sintonizarmos com o “nosso eu”. Quando impomos ou procuramos um afastamento, cabe-nos a decisão de o voltarmos a iniciar, como resultado daquilo que sentimos ou do que queremos sentir, fruto das opções que tomamos. Quando um afastamento é imposto, sentimo-lo como sendo uma limitação, o resultado de uma decisão que não escolhemos e não controlamos e que bate em nós como uma sensação de incapacidade. Quantas vezes tentamos uma aproximação e percebemos que é impossível pelas mais variadas razões!
Um outro tipo de afastamento pode ainda ser uma decisão repartida, em que o afastamento é, de certa forma, o preço que temos que pagar para obter alguma coisa que nos é importante. É um afastamento imposto por algo que desejamos ou que consideramos importante ou vital para o nosso bem estar.
Em suma, se um afastamento é físico, este termina quando os obstáculos são transpostos: a distância, a disponibilidade, o tempo, etc. Se for emocional tem que ser restabelecida a confiança para que o afastamento termine e tem que voltar a existir necessidade de presença emocional entre as partes.
Deste ponto de vista, o afastamento físico por mais complicado que pareça pode ser sempre mais simples de ser ultrapassado do que um afastamento emocional, já que depende essencialmente da nossa capacidade em ultrapassar os obstáculos físicos, enquanto que um afastamento emocional depende muito de vontades mútuas e do conseguir gerir os sentimentos envolvidos.
Nos afastamentos definitivos temos que saber aceitar e conviver com eles, respeitando a sua memória mas sem ficarmos presos a ela. As nossas memórias ou fragmentos de situações ou relações nunca deixam de fazer parte das nossas vidas e muitas vezes são a base da pessoa que somos.
Tenha pena de alguns afastamentos que vou observando e sentindo ao longo da minha vida. Na minha habitual rotina aprendi a conviver com determinadas ausências e passei a viver em sintonia com o que tenho e com quem me acompanha, porque e acima de tudo o importante é valorizar verdadeiramente cada momento, cada pedacinho de algo vivênciado, porque tenho bem presente que há momentos e pessoas que são únicas, que passam por nós, mas nem sempre ficam.
Termino esta minha divagação com uma frase de Leonardo da Vinci, e que faz imenso sentido para mim: “Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro”.
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